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Nick Cave & The Bad Seeds - Push the Sky Away (2013)

30-08-2013 14:42

Free My Mind

Download de Nick Cave & the Bad Seeds - Push the Sky Away via MEGA

Aparentemente mais descarnado do que os anteriores, o novo disco de Nick Cave revela a sua riqueza abaixo da superfície

A contenção é a chave. Ou o “controlo”, para utilizar expressão do próprio Nick Cave. Contenção, expliquemos, na gestão dramática das canções. Depois do rock''n''roll alucinado dos Grinderman, a sequência no percurso discográfico dos Bad Seeds é algo completamente diferente. Um tratado sobre a forma de dotar canções e as palavras que nelas se cantam de uma verdadeira atmosfera. Se "Dig Lazarus Dig!", o último álbum dos Bad Seeds, estava repleto de humor e sons fervilhantes - o som como que crepitava -, aqui tudo é fantasmagoria ou beatitude corrompida pelo ruído que se intromete, pelas palavras que não deixam espaço a purezas. O gospel caveano não permitiria que fosse de outra forma.

Primeiro álbum gravado sem Mick Harvey, um dos fundadores dos Bad Seeds, "Push The Sky Away" parece reflectir o trabalho conjunto que Cave e Warren Ellis têm desenvolvido em bandas sonoras. Não é um disco de explosões, de raiva, de cóleras gritadas e expelidas aos nossos ouvidos. Nem, por oposição, um disco de vias-sacras ao piano, questionando os infernos do coração humano de olhos postos no céu lá tão longe. Aqui, as guitarras são camada sonora de reverberações e feedbacks orquestrados e os pianos são sons subterrâneos mais subentendidos do que presentes. Sobre eles, a manipulação de sons de Warren Ellis, verdadeira sonoplastia para as histórias de Cave, feito observador atento mas distanciado de luxúrias perversas, amores amaldiçoados, reflexões do quotidiano (“Wikipedia is heaven/ when you don''t want to remember no more”) e delírios surreais - no blues narcótico do longo "Higgs bossom blues" reúnem-se Robert Johnson e o Diabo, Hannah Montana e missionários, todos atravessados no caminho do homem que conduz infatigavelmente em direcção a uma Genebra a que nunca chegará.

Não é um disco em que entremos suavemente. Pede tempo para que nos instalemos, para que descubramos verdadeiramente todas as suas nuances. A partir do momento em que tal acontece, porém, é incrivelmente recompensador.

A guitarra picada, qual engrenagem sabotando o desenvolvimento orgânico de "Wide lovely eyes", é assombrada pelo espírito de um velho conhecido, Johnny Cash: “It''s darker and closer to the end”, canta Cave. "Water''s edge" é toda ela tensão, naquele baixo pulsando febrilmente e nas guitarras invertidas que silvam sobre o canto no limite do spoken word, qual prenúncio de uma tragédia que não se concretiza verdadeiramente - canção sobre desejo e raiva e Cave, observando os adolescentes à beira-mar, desesperando, ameaçando “but you grow old/ and you grow cold”.

Aparentando ser um álbum mais descarnado do que os anteriores, "Push The Sky Away" revela a sua riqueza abaixo da superfície. Descobrem-se flautas e orquestrações, descobre-se como diversos elementos sónicos se combinam em canções que, por ausência de explosões ou crescendos óbvios, aparentam discrição. Nada mais errado. Cave continua a sobressaltar-nos com imagens perturbadoras - “I got a foetus on a leash”, ouvimo-lo algures - e com versos de uma inesperada beleza: “I believe in God/ I believe in mermaids too/ I believe in seventy two virgins/ On a chain why not/ I believe in the rapture/ For I''ve seen your face”. Atrás de si, os Bad Seeds dirigem-no enquanto tacteia as novas dimensões do universo caveano. Uma surpresa. Um grande álbum.

in IPSILON